quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Heaven?

     Aquilo... Aquilo era o purgatório? Ahn... Talvez fosse... Mas não sei e nem quero saber. A única coisa que passava em minha mente era a falta que ela me fazia. A falta que todos me faziam. Embora eu não soubesse o porque, aquilo era tudo em que eu conseguia pensar. 
- Querida? - uma voz masculina, mas suave, interrompeu meus pensamentos. - Você está pronta para ir.
- Ir pra onde? - perguntei, franzindo o cenho.
- Para junto Dele - o homem disse, e me virei para olhá-lo. Ele usava um vestido branco, parecia um pijama. Seus cachinhos miúdos eram loiros, e as maçãs do rosto eram de um vermelho natural.
- Onde eu estou? - perguntei, ainda olhando-o.
- Não importa - ele sorriu. - O que importa é para onde você está indo. Para junto Dele.
- Mas eu não quero! - exclamei. - Quer dizer... Eu quero... Mas não agora. Eu deixei uma vida toda pra trás... Tenho tanta coisa pra resolver, tantas pessoas pra conhecer!
- Todos aqui tinham, minha querida - ele disse, abraçando meus ombros e caminhando ao meu lado. - Mas o destino quis assim, sua hora chegou. Será um prazer tê-la conosco.
- Eu vou poder vê-los novamente? - indaguei, tentando proteger meus olhos do sol que brilhava muito.
- Daqui a algum tempo, sim - ele deu de ombros. - Mas não agora.
- Porque não? - continuei.
- Porque você não gostaria do que iria ver - ele baixou os olhos e abaixou o braço que envolvia meus ombros.
- Mas... Eu quero vê-la - eu disse, sem explicar mais nada. Ele olhou em meus olhos e suspirou.
- Vejo que você não vai desistir - disse. - Venha, vamos vê-la. Mas depois não diga que eu não avisei.
    Ele segurou minha mão e continuamos andando, agora com passos mais rápidos, pelo campo florido. As pessoas por quem passávamos sorriam para mim e para ele, cada uma delas acompanhada por um anjo.
- Você é meu anjo da guarda? - perguntei.
- Sim, sou eu - ele sorriu para mim.
     De repente, o ambiente mudou. Estávamos em um quarto escuro, as janelas e cortinas fechadas, um lugar abafado. Havia um enorme guarda-roupa na parede perto da porta, e uma estante de livros logo ao lado. Os soluços que não paravam me chamaram a atenção, e então a reconheci. Ela estava deitada na cama, encolhida, tentando fazer passar a dor que sentia. A dor que ela sentia e que eu sentia também. Enquanto eu estive viva, nós sempre fomos muito conectadas. Mas agora estava tudo diferente: Eu conseguia sentir o que a afetava. E, dessa vez, era uma dor insuportável. Parecia que havia um enorme vazio no lugar onde, por lógica, deveria estar o coração. A dor me dilacerava, e a cada lágrima derramada por ela, isso aumentava mais.
- Desculpe - o anjo sussurrou para mim.
     Eu não consegui dizer nada. A única coisa que eu queria naquele momento era abraçá-la e fazer toda aquela dor passar... E o fato de não poder fazer isso me machucava cada vez mais.

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